sábado, 20 de dezembro de 2008

Sistema Educacional Japonês

O sistema de ensino japonês é bem diferente do brasileiro. Ele segue os padrões dos países desenvolvidos, lógico. Longas horas no ambiente escolar, ótima estrutura física e preço acessível, quando escola pública.

Quando no Brasil, ficava me perguntando como as crianças japonesas conseguiam ficar tanto tempo dentro da escola: das 8 da manhã até as 3 da tarde, mais ou menos. Depois de vir pra cá, entendi. Todas as escolas contam com uma quadra coberta, salas-de-aula bem estruturadas, pátios enormes, cafeteria, sala de informática e outras instalações extras.

Na parte da manhã, as crianças têm as aulas convencionais. À tarde, ora aulas convencionais, ora os chamados "clubes". A escola cede aos alunos o espaço que eles quiserem (praticamente) para se organizarem e montarem grupos de atividades. Por exemplo, há um clube de basquete, um de futebol, um de beisebol, tênis, canto, BANDA (inclusive, foi nesse clube que me inscrevi e entrei pra banda Fly Beans), jazz e tudo mais o que quiser imaginar. Basta você criar um clube e convidar as pessoas pra participarem. A escola, aqui, pode ser um lugar muito bem atrativo para as crianças. Sem contar, claro, o tamanho: são enormes!

Detalhe interessante é que se tira o sapato na entrada da escola, também. Aí você usa um sapato apropriado pra andar pelo interior do prédio. Meu, o pé fica sempre confortável! Vou estranhar, com certeza, quando voltar pro Brasil. Até no trabalho! Eu dou aula de inglês de meia!!! Quantos professores não queriam isso, hein? Uma pena que na faculdade aqui não se tem mais esse costume, não sei por quê.

O ano letivo começa em abril e vai até junho. Tem-se, então, dois meses e meio de férias de verão (mas os clubes continuam pra quem quiser) e voltam às aulas por volta de setembro. As aulas vão até o dia 22 de dezembro, param até dia 6 de janeiro, depois voltam. As férias de inverno (dezembro) são curtas mesmo. O semestre acaba em fevereiro. Os alunos tem 1 mês de férias de primavera, depois começam a rotina novamente.

Fizemos alguns trabalhos voluntários aqui pela Universidade Wesleyan de Nagasaki. O programa de intercâmbio propõe que todos os alunos intercambistas visitem escolas públicas e dêem um pouco de atenção às crianças. Durante o programa todo, fizemos em torno de 10 visitas.

Segundo o diretor da Assessoria de Assuntos Internacionais (órgão interno da faculdade daqui), Sr. Yamaguchi (boca da montanha, traduzido), o programa de voluntariado tem como finalidade levar um pouco de conhecimento internacional, diversão e atenção às crianças "carentes". Meu, precisam ver a educação, respeito e admiração dessas crianças!

Cada escola é diferente da outra, claro. Mas basicamente cada aluno intercambista se junta a um grupo de alunos já pré-definidos anteriormente por eles mesmos. Em uma das escolas que fui, o meu grupo tinha pesquisado sobre o Brasil antes de me receber. Sabiam se apresentar em português, cumprimentar, nome de comidas, esportes e de algumas brincadeiras. A idade? Por volta dos 10 anos de idade! Nunca tinham estudado português na vida. Pronunciavam com falhas, claro. Mas pera lá! Quem reclamar da pronúncia deles vai se ver comigo! Sem mais, fiquei de queixo caído.

Numa outra ocasião, um garotinho de 9 anos ficou impressionado com a minha barba (que, realmente estava grande). Ele nunca tinha visto um rosto tão peludo! De vez em quando ele vinha e ficava passando a mão na minha barba. Mereço isso! Afinal, japas, chineses e coreanos não são tão peludos assim, né? Imagino se eles vissem meu tio João, o Renato (Vaca) ou o Toni Ramos.

Ontem, na última visita que fizemos (infelizmente), pediam autógrafos pra gente. Senti como se tivessem reconhecido o meu talento musical. Pensei: "até que enfim Poetas Mortos ficou famosa". Eles acham o máximo as assinaturas, porque aqui no Japão, não existe! A maneira de assinar documentos por aqui é com um carimbo, chamado "hanko" (leia "rancô") ou "inkan". A assinatura escrita também existe, mas não é como no Brasil.

Uma coisa que quase me esqueci de comentar é sobre a inclusão escolar e social. No Japão é muito mais comum ver pessoas portadoras de alguma deficiência física do que no Brasil. É interessantíssimo a estrutura que o país tem para atender essas pessoas. Nas ruas, por exemplo, quando abre o sinal para pedestres, toca-se um sinal do outro lado da rua para que deficientes visuais possam atravessar sozinhos. Sem contar que a calçada é tem guias para cegos se guiarem com suas próprias bengalas. Até dia 23/12/08 eu coloco algumas fotos e vídeos para vocês verem. Fiquem atentos e voltem à esta publicação para verem.

Para finalizar, nenhum dos alunos desta faculdade se inscrevem para ir para o Brasil (uma vez que é um programa de intercâmbio, alunos brasileiros vêm pra cá, e os japoneses podem ir para a UNIMEP). O curso com maior popularidade nesta universidade aqui é o de Assistência Social, por isso a questão dos programas voluntários. No entanto, falta um pouco de interesse e dedicação (parece) da parte da UNIMEP de montar um programa que cumpra com o que eles esperam aqui. Claro que vários outros fatores influenciam, mas não vou abrir essa discussão aqui, agora. O lance é que se a UNIMEP não se atentar, pode perder o vínculo com a Wesleyan University de Nagasaki, o que seria uma grande vergonha e perda.


OBS: Esqueci de comentar que a o conceito de escola pública e privada aqui no Japão (e em outros países desenvolvidos) é diferente do Brasil. A escola é pública porque tem preços acessíveis a todos, não porque é de graça. A privada, muito mais cara. Grato pela compreensão.
Outra coisa, falei sobre inclusão social. Talvez tenha me expressado errado, mas me referia à inclusão no quesito autonomia que um deficiente (não sei se é o termo correto, mas enfim, o popular) pode ter aqui no Japão. Tudo é estruturado (ruas e escolas) para todos. Essa é a diferença a que eu tentei me referir. Mais uma vez, desculpem-me.

Abraços!


Fotos do Programa de Voluntariado

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Caçador de vaga-lumes

No final do mês de maio, entre os dias 20 e 30, é possível ver um grande acúmulo de vaga-lumes nas regiões mais rurais do Japão (que é o caso da cidade de Isahaya, por exemplo), porque nas metrópoles, os riachos são poluídos demais.

Fui duas vezes nessa caçada. A primeira vez foi bem esquisita. Mas para que compreendam, hei de voltar um pouco mais no tempo para explicar um acontecimento antecedente.

Certo dia, estava eu sozinho no dormitório (era um sábado, se não me engano), assistindo um pouco de TV, almoçando e tentando entender o que falavam, quando, repentinamente, chegou um senhor de idade, já com pouco cabelo (assim como o Jeff), e fez contato. Conversamos por algum tempo, ele se apresentou, papo vai, papo vem, disse que um de seus hobbies era fazer amizade com os alunos intercambistas. De fato, uma pessoa muito amigável! Enfim, conversamos e ele se foi.

Agora voltemos à história dos vaga-lumes. Como dizia, a primeira vez foi bem esquisita. Estava eu a conversar com dois amigos quando fomos surpreendidos pelo referido senhor acima nos convidando para ver vaga-lumes perto de um riacho a 5 minutos de carro da faculdade. Claro que, como brasileiro, a princípio achei muito besta e estranho. Ver vaga-lumes, às 8 da noite, perto de um riacho? Pra quem acompanhou as histórias do João Cléber e do Geraldo Luís, isso parece um tanto quanto abuso sexual, não? Mas, como aqui se trata de Japão (e, infelizmente a segurança é algo invejoso por aqui), decidimos ir (mesmo pensando que seria besta demais sair pra ver vaga-lumes).

Quando chegamos, uma surpresa. Várias pessoas se juntam para ver os vaga-lumes. E é incrível a quantidade deles. Parece até que as estrelas caíram na terra! Nunca imaginei que seria algo tão lindo, de verdade. Pegamos alguns (que são diferentes e menores do que os brasileiros), andamos ao redor do lago escuro (tomando cuidado pra não tropeçar e cair dentro, claro) e depois partimos.

Claro que gostei da idéia e quis compartilhar com os amigos do dormitório. Uma semana depois, fomos no mesmo local (desta vez a pé, com mais ou menos 27,4 minutos de caminhada). Impressionantemente, havia menos do que a metade anterior! É um período muito curto mesmo! A melhor data é entre 20 e 25, acredito.

Infelizmente, por ser um lugar extremamente escuro, não deu pra tirar fotos interessantes. Publiquei, no entanto, algumas fotos do passeio, incluindo uma série que tirei com o flash na cara das pessoas. Caretas interessantes, eu diria.

Por fim, pensando nos próximos intercambistas, coloquei um mapa do local. Tem dados extras pra quem quiser procurar o local exato no Google Maps. Somente para explicar, o Google Maps traçou um caminho impossível de se fazer a pé. Portanto, você tem que sair do ponto A, descer a rua amarela (detalhe interessante é que pouquíssimas ruas japonesas têm nome!), virar a primeira à direita e seguir reto toda a vida, depois virar à direita novamente. Mais detalhes, me pergunte quando for pra lá.

Abraços a todos!

Fotos da caçada (antes que os ativistas me persigam, soltamos os bichinhos logo em seguida!)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Quase na hora de voltar

Pois é, já se foram 8 dos 10 meses de intercâmbio. Está quase na hora de voltar para casa. Hoje fiz o honorário teste de proficiência em língua japonesa. Apesar de ainda não saber do resultado, me sinto como se estivesse cumprido a missão. Claro que não foi o suficiente pra ficar fluente no idioma, uma vez que é uma língua completamente diferente das indo-européias. Mesmo assim, sinto que melhorei meu conhecimento a ponto de sentir satisfação pelo que passei junto dos outros amigos aqui.

Uma coisa que, de fato, precisarei quando voltar, é reler livros em português e dar uma pequena estudada na gramática. Algumas vezes tenho dúvidas sérias sobre questões pequenas, além de perder o domínio do que quero dizer. É estranho, não sei se alguém que lê este blog já teve essa sensação. Realmente não é nada agradável.

De agora em diante, vou começar a escrever sobre minhas experiências e retrospectivas nipônicas. É uma fase triste e feliz ao mesmo tempo, uma situação melancólica e ... (espaço para uma palavra que sei o que significa, mas que não sei mais dizer em português). Quero compartilhar o que aprendi e qual a minha visão em relação ao povo japonês, os prós e contras da cultura (de acordo com o meu ponto-de-vista) e, claro, as palhaçadas e o que aprontei por aqui.

Nada programado, nem decidido, nem contínuo, vou começar com uma seleção de vídeos. Quando chegamos, acordávamos cedo, empolgados e estudávamos cerca de 1 hora antes das aulas começarem. As aulas aqui são das 8:50 às 12:00, com um intervalo de 10 minutos entre 10:20 e 10:30. Alguns dias temos aulas à tarde, das 13:10 às 14:40. Num certo dia, desses quando acordávamos cedo pra estudar, levantei e chamei o Jeff. Fui tomar um banho e quando voltei, ele ainda estava dormindo. Chamei de novo e fui tomar café da manhã. Quando voltei, ainda estava dormindo. Chamei novamente saí do quarto. Quando voltei e vi o garoto morto na cama, chamei o Kao (amigo tailandês, parceiro das bebedeiras) e decidimos acordar o Jeff no grito. "Wake up!" bem violento no ouvido do cara. A qualidade do vídeo não está lá tão boa, mas é possível reparar no movimento instinto-defensivo de tartaruga que o "brother" faz.

Num segundo vídeo, filmei o Jeff roncando depois de 20 horas de estudo contínuas, pra provar pros amigos dele que o cara deu duro aqui. Segue o vídeo. Claro que vale ressaltar um feito histórico do Jeff aqui no dormitório. Durante as férias de verão, num calor mais quente do que o da região de Campinas, estado de São Paulo, o brother conseguiu passar 21 horas seguidas dormindo! (Na verdade ele acordou pra fazer xixi no meio desse tempo todo).

Depois seguem dois vídeos de um japa que dormiu no sofá da sala de TV. Eu apareço morrendo de rir em ambos os vídeos. Não agüentava (sim, eu sou contra a reforma ortográfica e defendo o uso do trema!) de ouvir o ronco dinâmico do japorongo. Percebam, na boa, como o cara aumenta e diminui o volume do ronco. Foi, de fato, interessantíssimo! Em algum dos dois vídeos é possível ouvir a voz (irritante) de uma japa cabeçuda chamada Kaana. Ela era apaixonada pelo rapaz que aparece ao lado dela no mesmo vídeo. Ele, o galã do dormitório (todas as meninas, sem exceção, morrem por ele). Ela, uma cabeçuda fracassada, irritante, folgada, mas gente fina. Certa vez ela comprou sorvete pra comer sozinha, mas guardou na nossa geladeira (porque ela ia fugir do dormitório feminino à noite pra comer assistindo à TV na nossa sala). Ela não apareceu naquela noite, estava calor... Claro que agradecemos depois!

Por fim, apenas para especificar uma questão mencionada, as meninas têm horário para se recolherem. Enquanto os homens são quase 100% livres aqui no dormitório, as meninas têm um toque de recolher às 10 da noite. Depois disso, a chefe do dormitório feminino (nós, homens, não temos, eu me fiz o chefe aqui, hehehe...) tranca a porta e ninguém mais sai, ninguém mais entra, exceto as que fogem. Sim, parece um presídio! Mas também, a cidade é parada, os bares são caros e puteiro pode-se ver em qualquer esquina, no entanto, não é pro meu bico. Diversão é sempre no dormitório!

Abraços!


Acorda, Jeff!
Jeff Roncando
Japa Roncando Grosso - Parte I

Japa Roncando Grosso - Parte II