sábado, 25 de abril de 2009

Diário de Bordo

Minha vida aqui está se ajeitando aos poucos, exceto no que se diz respeito a casamento (sorte a da minha mãe). Aqui é bicho feio, no Japão era um pouquinho melhor. Mas este artigo não diz respeito às minhas experiências sexuais no oriente, mesmo porque meus ex-aluninhos podem ler este blog acompanhados dos pais e, convenhamos, não seria muito bom pro meu lado profissional. Claro que tenho que pensar numa possível volta. E se de repente tudo muda?

Esses dias me aconteceu uma coisa engraçada. Sempre que eu entro na internet, vem gente perguntando coisas do tipo “e aí, como tá?”, “conta tudoooo!”, “manda notícias, hein?” ou algo parecido. Numa dessas eu pedi, educadamente, que a pessoa lesse o blog, que é a maneira mais fácil de contar as novidades de uma maneira geral: “ah, mas os seus textos são grandes demais, não tenho tempo de ficar lendo”. Caralho, por que me pergunta pra contar as novidades? Risos. Como não dá pra transmitir emoções corretamente por textos, vale explicar que eu tô contando isso como uma piada, não bravo.

Não me sinto só. Não disse que não sinto saudades do Brasil. Aqui tem dois brasileiros, além de mim, e três chineses: um escravizado, o cópia do Seu Boneco e um metrossexual chinês. Ontem, dia 24 de abril, fomos a um KTV (karaokê), que é a grande diversão deles. Foi massa, interessante, pra conhecer. Nada de freqüentar o lugar, mesmo porque eu não sei nenhuma música chinesa ainda. O lugar é lindo, bem ajeitado, bem limpo e bem cuidado, coisa que é rara por aqui. Ao entrar, você faz o supermercado. Tem uma lojinha de conveniência onde você compra toda a bebida que vai consumir (claro que pode pegar mais depois) e leva para a sala (fechada) da cantoria. Cada sala tem seu próprio grupo de clientes, ou seja, impossível paquerar e conhecer gente nova. Pedimos um balde de gelo (porque eles tomam cerveja quente) e ficamos as duas horas contratadas cantando, bebendo, fumando (eu só por tabela) e jogando dados! A vida contemporânea chinesa é muito nova, em contraste aos 5 mil anos de história. Há dez anos muitos não tinham geladeira em casa (aí o de tomar breja quente) e nem se divertiam, tanto que as diversões deles hoje remetem muito às da minha avó e pais, de ficar passeando na praça e dançando passinhos. Enfim, bebi um monte, cantei “with or without you”, que era a única em inglês que eu conhecia, com um clipe modificado e muito tosco, e joguei os dados. Foi que, em meio àquele som alto pra caramba, o Júlio enlouqueceu ouvindo um dance chinês e começou a dançar freneticamente. Ninguém acompanhou. Eu tirei fotos.

E depois das 2 horas pegamos as cervejas que sobraram e fomos para uma boate. Diversão do tipo descolada por aqui é boate, como em vários outros lugares do mundo. Boate é sempre boate, exceto pelos funcionários estarem vestidos de guardas imperiais e concubinas, e pelos copinhos com dadinhos pra você se divertir com um dos 1500 jogos para dados chineses. Pior é que tinha um cara bebasso jogando isso com uma concubina. Não faz muito o meu estilo, principalmente quando uma das concubinas se aproxima da mesa e fica brindando com a gente pra tentar tirar nossa bebida e fazer a gente consumir mais. Ela não é prostituta. E, como todos os chineses, brinda e vira o copo. Mas ela não é elegante, bebe tudo e deixa a baba escorrida no biquinho (não o do peito) e fica olhando pra gente com um olhar 43. Sexy pra caralho! Alguém conhece um lugar onde os funcionários se divertem mais do que os clientes? Nessa boate tinha milhões de soldados imperiais, todos dançando e pulando muito mais do que a galera, que, aliás, era fácil identificar quem tinha tomado ecstasy ou não. Chineses têm um remelexo melhor do que os japoneses, mas mesmo assim é tosco. Eles dançam paradões, as minas rebolam duro (não que eu seja mestre na dança, mas sei identificar uma coisa mais solta e natural) quando estão sãos. Mas, entretanto, contudo, todavia os que tomaram bala pareciam aquele negão do filme “as branquelas” dançando. Qualquer hora eu faço um vídeo imitando. O melhor de tudo na boate era o banheiro. Eu fui lá dar aquela esvaziada e quando terminei, um cara sentado do lado da pia abriu a torneira, pegou uma toalha de papel e ficou esperando eu terminar de lavar as mãos pra me entregar. Peguei e comecei a enxugá-las, ele, então, ligou um secador de cabelos nas minhas mãos e ficou lá fazendo ventinho. Eu disse que não precisava daquilo tudo (ou acho que disse), mas ele insistiu, falou algumas palavras em chinês, eu não entendi porra nenhuma e saí. Isso me aconteceu nas 3 vezes que fui no banheiro. Na última fiquei sabendo que ele fica lá fazendo essas mordomias na espera de uma gorjeta. Ah, desculpa cara, mas eu não falo chinês!

Ainda no final do rolê fomos comer algo. Eu, com o Brasil ainda na mente, fui pensando em comer um lanche, um cachorro-quente, um x-tudo... Putz, chegamos lá e vem uma sopa com uns bagulhos que nem imagino o que sejam, uma verdura frita no alho e um macarrão não-identificável junto. De fato, era tudo gostoso, mas sabe quando você vai naquela seca pra comer algo e de repente tudo que você imaginou se desfaz? Você sabe do que tô falando?

Mas a saga desta semana ainda não acabou. Outro dia eu fui dar um rolê no centro de Shenzhen. Cidade linda (mesmo!), chique, bem tecnológica e bem estruturada. Fomos num shopping bem legal, chique, loja da Nike, Adidas, Puma, tudo original, tudo barato... E sem provador! Sei lá, acho que até tinha, mas não vi ninguém usando. Também não vi nenhuma chinesinha experimentando a roupa (droga!). A única peça que eu vi foi um tiozão de seus 60 anos arrancando a camiseta preta e vestindo uma da loja, no meio de todo mundo, no meio da galera, na maior moral. Não devia ter ficado legal, aí ele tirou e provou outra. Desencanadão, ficar lá com os nipples rígidos à mostra. Isso me fez lembrar de quando eu fui numa praia de nudismo em Floriaópolis. A única cena que consegui ver de nudismo foi um véio saindo da água, com o saco arrastando no chão. Puta azar!

Shenzhen é uma cidade massa (gosto mais do que da que estou agora), mas é barulhenta. Moro num apartamento no 18º andar, num bairro legal, ao lado do prédio tem um restaurante que só funciona da tarde pra madrugada, uma loja de conveniência que leva o que você quiser até seu apê, uma escola, uma construção e um KFC por perto. Dormir é uma coisa foda nesse apartamento. Outro dia acordei com uma crise de espirro de um cara lá no restaurante. Dezoito andares nos separando e eu acordo com a crise de espirros do cara. Puta merda! Outro dia foi a escola, que começa a cantar “yi, er, san, si”, ou “um, dois, três, quatro” sei lá pra quê. Agora, todo dia é clássico o barulho de serra e marteladas da construção. A semana foi trash! Por isso que eu bebo antes de dormir...

No domingo passado fomos dar um rolê pela Universidade de Shenzhen. Nossa, que enorme! Acho que umas 3 vezes a UNIMEP. Passamos numa academia de taekwondo, na China. Dentro da faculdade, uma molecadinha aprendendo luta coreana no país do kung fu. Deu pra ver que o treinamento era pesado: o professor subia nas crianças de 8 anos de idade pra ajudar a alongar melhor. Risos. Alessandro, Júlio e eu estávamos passeando por lá, falando português, na moral, eis que surge um chinês: “vocês são brasileiros?” Ele tinha morado em Caxias do Sul, foi estudar futebol e ficou por um ano. Ele até que falava bem o português. Trocamos telefone e algum dia vou acabar chamando ele pra dar um rolê com a gente, em algum KTV da vida.

Vindo pra cá eu descobri que o povo chinês não curte perfume. Eles se sentem incomodados com a fragrância dos perfumes. Por isso eles preferem o cheiro do alho. Todos eles cheiram a alho! Todos eles, exceto um: o metrossexual. Tem um chinês que mora e trabalha com a gente que é fissurado em exercícios físicos. Ele estudou kung fu no tão reconhecido mundialmente Templo de Shaolin, mas um tempo de exército e uma prática diária na academia (aquela que tinha a mulher com um braço mais largo que minha coxa). No trampo, ele vai ao banheiro e volta pulando de costas. Segundo ele é pra fazer exercício. Ele pára de fazer algo, fica agaixando e levantando. E pra tirar fotos então? Cada pose... A imagem lhe é tão importante que ele não fuma, não bebe, tudo pela saúde, mas lá no KTV eu tirei uma foto do Alessandro fumando, do Júlio fumando e uma do Seu Boneco fumando. Ele quis uma foto fumando também, porque achou que ficava massa. Aí acendeu o cigarrão lá e mandou ver. Metrossexual chinês!

Ufa!

E as fotos.

4 comentários:

  1. Meu amigo, a maioria das pessoas (não todas, óbvio) q perguntam "como estão as coisas aí, conta tudo", o fazem por educação, tipo: tudo bem? esperando um tudo bem... mas, se a resposta for negativa, inventam um compromisso para não ouvirem e saem pela tangente.
    É foda, mas esse é o sistema de conduta social.

    Cara, queria saber como é o lance político aí...
    Essa é uma grande curiosidade minha, ao menos...
    Queria q compartilhasse algo a respeito...
    No mais, continue se divertindo e relatando essas situações inusitadas para q seus amigos se divirtam junto, mesmo q do outro lado do mundo!

    Hasta, baby.

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  2. Que massa! Quero ver até o fim da sua vida, por quantas coisas bizarras você terá passado oO

    beeeijo, saudade!

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  3. haha, que barato isso hein!?
    Cê já foi em alguma rede de fast-food do Jack Chan?
    Lá tem hamburguer!

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  4. Nem sei do que comentar... se dos nipples, dos caras que se divertem com eletrochoque, se é do crânio desproporcional do seu boneco, do metroriental sem sobrancelhas, da china de braços cochudos, ou da concubina... mtas bizarrices simultâneas.
    Uma coisa eu sei, tu divertes a ti mesmo sozinho, consigo, e só. Eu sei disso só por ler o título das fotos do transito chinês... toda vez que via um "morreu" ou "atropelado" eu cascaaava aqui...
    Zup

    Adeus!

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