segunda-feira, 13 de abril de 2009

Segundas impressões da China

Ainda na construção de uma identidade chinesa, fomos ao centro eletrônico de Shenzhen, uma área enorme e bem movimentada (pra variar). Várias coisas me chamam a atenção nessa terra xinguelingue (aproveitando da licença poética e da nova ortografia), mas bem no meio da multidão que consumia enlouquecidamente havia uma mulher fazendo propaganda de uns artefatos de cozinha (acho, porque não conseguia prestar atenção em outra coisa senão nela) na calçada, balançando os braços bem a la axé bahia 2009. De repente, me chegou aos olhos uma imagem que já tinha visto no Japão, mas em menor escala, e fiquei pasmo. Um puta sovacão peludo do caralho que era difícil imaginar que colocaram justo ela pra dançar feito Carla Perez. Na boa, acho que era mais longo que os meus cabelos na época de colegial.

Mas o bizarro não acaba por aí (que fique claro que eu tô me divertindo pra cá). Nesse mesmo bairro tem uma churrascaria brasileira chamada “Latin”, onde todos os garçons e porteiros são chineses vestidos de gaúchos, e gerenciada por um uruguaio serial killer que fala chinês com sotaque espanhol. Pra se ter noção do quão psicopata é o cara, ele foi cumprimentar um chinesinho de uns 4 anos de idade com uma faca de cortar picanha na mão, a boca salivando, olhos esbugalhados e batendo palmas ritmadas em 16/8. Só faltou a risada maligna de filme de terror. Ah, claro, tem uma banda que toca sempre nesse restaurante. A banda é boa, mas a cantora... Na verdade ela canta bem, mas é a Tati Quebrabarraco (pode isso de acordo com a nova ortografia?) em pessoa. Diplomacia é o forte dela: bate na bunda das garçonetes, pega no pirulito dos sinogaúchos e fica perguntando pros raparigos se estão fodendo muito. Oh, shit!

Os chineses são engraçados. Enquanto eu andava por esse tal bairro com minha câmera fotográfica gigantesca, um rapaz pediu pra eu tirar uma foto dele na bike. Ele deve ter pensado que eu era um fotógrafo internacional, sei lá. Depois disso até andei pensando em mudar de profissão (mal comecei esta de agora) e virar fotógrafo de revista masculina. Alguém se habilita?

Outra coisa engraçada por aqui é o trânsito. Imagine uma chinesa lindona e bem vestida chupando cana e atravessando uma avenida com 4 faixas. O carro avista a moça de longe e acelera mais ainda. Ela, preocupada com sua vida, aperta o passo e atravessa da faixa dois para a três. O motorista, ao invés de diminuir ou continuar na sua faixa número dois, persegue a garota e sai buzinando sem diminuir a velocidade. Parece muito que eles perseguem os pedestres só pra ter o prazer de socar a mão na buzina. Os carros entram nas calçadas e saem buzinando pra todo mundo também. Bizarro é que não tem local pro pedestre andar em paz (sem contar com o espaço) em lugar algum. Falando em espaço, uma coisa que notei foi que o Japão tem uma preocupação com detalhes minúsculos e valoriza muito coisas pequenas. Talvez pela filosofia zen, não zei. Mas a China é o oposto. Tudo é muito grande, muito exagerado, muito enorme. As maiores praças que vi no Japão não são nem metade das pequenas que vi por aqui. É tudo muito exagerado!

Indo embora para casa, passamos no supermercado. Peixes frescos e vivos pra se comprar e matar na hora, tartarugas, enguias, conchas e tudo mais que você imaginar que eles comam, exceto cachorros, cobras e insetos (e acreditem, ainda há uma grande variedade de comida) não foi o que mais me chamou a atenção. Foi com a música “Festa no Apê” versão chinesa que eu fiquei pasmo. Pior de tudo é a tradução, que a cantora diz que tem uma barata na casa dela, mas que ela não tem medo de matar. Não sei se tem algo a ver com a privação intelectual ou com a revolução cultural chinesa (vide The Great Firewall of China e a nova proibição do site YouTube na China), mas imagine a letra: tem barata lá no meu apê / eu não tenho medo / mas quem mata é você [...] vem aqui / pra matar / tem sbp / raid mata [...]

Pra fechar, o grande auge da psicodelia chinesa é a sabedoria popular. Lembremos que a China é enorme tem uma cultura vasta. Mas outro dia o Alessandro tossiu e um amigo dele disse que não podia tossir porque fazia mal. Como assim faz mal tossir? Ainda paciente, ele explicou pro chinês que ele tinha que tossir pra expelir algo do corpo, e que era normal. A resposta? Não, tossir faz mal. Segura e espera um pouco que vira peido!


Centro de Eletrônicos

3 comentários:

  1. acho que falar que você falar que foi numa "área enorme e bem movimentada" é redundante se tratando de China. hahahaha

    puta dó do cara que pediu a foto. e você nem caprichou, tadinho!

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  2. HAHAHAHAHAHA. Dreadlocks no sovaco!! Vou é pegar minhas miçangas e uma toalha de mesa aqui, fazer um furo pra encaixar na cabeça e me mudar pra China. Montar um estabelecimento chamado RAPUNZEL e ganhar uma grana com Tererês & Rastafaris Axilares.
    A... a mais nova do Santinho: "Sabe que tô até me acostumando com esse bairro aqui? Fizeram essa igrejinha na frente de casa, na esquina de baixo tem um bar, aqui do lado uma sorveteria e no fim da rua tem uma morena bonita que to namorando!"
    Não dá 2 minutos a campainha toca. Era a morena. Uma louca chapada que mora na rua e cuida do vô sem receber um centavo porque ela adora. É o único que dá atenção num nível compatível com o da intelectualidade dela e ela corresponde com uma mentalidade similar à dele (80 anos e com ausimer - pra ver o naipe da louca! É MUITO louca mesmo!). Chorei de rir.
    Que massa as novidades daí, ein?
    Porra, nem na China se privou da festa no apê? Globalização fdp!
    Abraço ae Rafa. Té mais rapá!

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  3. Rafa, aqui tem Latin e a banda não é tão quebrabarraco assim. Ainda bem, pois ainda consigo matar a saudade da picanha sem me sentir constrangida por ser brasileira.

    Quando tu vens pro norte:

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